Localizada a cerca de 100 km da cidade Palmas, no município de Tocantínia, a Aldeia Cachoeirinha é a base da Associação dos Brigadistas Indígenas Xerente (Abix), conhecida em todo o território nacional pelo trabalho de combate às queimadas e incêndios florestais; a produção de alimentos com base na agroecologia e criação de peixes. Além desses projetos, uma novidade movimentou a comunidade nos últimos meses – o projeto Cine Xerente.
A iniciativa levou mostra de filmes e oficinas de produção audiovisual para a comunidade, com o patrocínio do edital de Audiovisual, da Lei Paulo Gustavo, via Secretaria Estadual de Cultura do Tocantins e Ministério da Cultura. A solenidade de encerramento aconteceu no sábado, 20, com a presença de indígenas da comunidade e convidados.
A programação se iniciou com um café da manhã partilhado por todos os presentes seguida por momento de falas de lideranças indígenas, cineastas, representantes de instituições culturais e autoridades, que refletiram sobre a importância do Cine Xerente como ferramenta de expressão cultural e inclusão social.
Reflexão
A presidente da Abix, Ana Shelley Xerente, destacou que o projeto era um antigo sonho da comunidade Xerente. “Aqui trabalhamos duro. Na época da seca combatemos fogo dia e noite, um serviço pesado e perigoso. Nas outras épocas do ano fazemos o manejo, os aceros, as queimas prescritas e a educação ambiental. Também plantamos e cuidamos das nossas roças e dos animais. Queríamos mostrar nosso trabalho e a nossa cultura para as pessoas porque infelizmente ainda sofremos muito preconceito. As pessoas que não conhecem a gente acham que somos preguiçosos e incapazes. Esse projeto veio para nos dar oportunidade de mostrar quem somos, o que fazemos e valorizar da nossa cultura, que é tão rica e importante para nós”, declarou Ana Shelley.
O idealizador do projeto, Pedro Paulo Xerente, avaliou que a iniciativa conseguiu alcançar os objetivos, que era divulgar sob a ótica dos indígenas as coisas que acontecem na aldeia e dar aos brigadistas conhecimento na arte de produzir e fazer roteiros de vídeos. “Agora podemos mostrar à população de forma simples, prática e objetiva toda a nossa atuação”, expressou Pedro Paulo.
O secretário interino da Secretaria Estadual de Povos Originários e Tradicionais, Paulo Xerente, afirmou que o projeto é essencial para mostrar a riqueza da cultura indígena. “Antes a gente necessitava que pessoas de foram viessem para conhecer e divulgar o nosso trabalho. Mas é através de projetos como esse que nos torna enquanto indígenas como os próprios protagonistas das nossas histórias”, relatou o secretário.
Investimento
O secretário de Cultura, Tião Pinheiro, afirmou que o projeto cumpre uma das principais missões da Lei Paulo Gustavo, que é de chegar até a ponta, sendo as minorias como os povos indígenas. “O objetivo desse investimento é exatamente a retomada cultural. O projeto Cine Xerente é muito lindo, inclusivo, e saber que o recurso chegou na ponta nos deixa muito realizados”, considerou o secretário.
A produtora executiva do projeto, Andrea Lopes, complementou sobre o cumprimento da democracia na execução da Lei Paulo Gustavo. “É uma Lei que vem trazer uma democracia na gestão dos recursos da Cultura, disponibilizando para as comunidades mais isoladas, distantes dos grandes centros e minorias. E aqui no Cine Xerente, mais do que isso, é um investimento que deixa um legado para a comunidade não somente em investimento no patrimônio imaterial, como também em bens materiais para a comunidade”, ressalta a produtora.
Cinema
O “Cine Xerente: Olhares Indígenas na Grande Tela” foi uma iniciativa que visou não apenas a difusão do cinema, mas também a capacitação da comunidade para a produção de seus próprios conteúdos audiovisuais. Ao todo, foram realizados diversos encontros e oficinas que abordaram desde técnicas básicas de roteiro, filmagem até a edição e finalização de filmes.
Além disso, a programação incluiu exibições de vídeos produzidos pelos próprios indígenas durante as oficinas, proporcionando um espaço para que suas histórias, vivências e perspectivas fossem compartilhadas com um público mais amplo.
A curadora da Mostra, Mariah Soares, destacou que o projeto permite aos povos indígenas se apropriarem da tecnologia para mostrar aspectos da sua história e cultura. “O olhar de um cineasta indígena é complemente diferente do olhar de um realizador não-indígena, então o Cine Xerente ao mesmo tempo em que mostrou filmes com a temática indígena produzidos por indígenas e não-indígenas oportunizou indígenas xerentes produzirem vídeos, durante a oficina de audiovisual, uma pequena demonstração do olhar de dentro para fora, propiciando troca de experiência enriquecedora e, para mim de aprendizado, pautado no respeito que nutro pelos povos originários brasileiros.”, concluiu Mariah Soares.
Projeto
O projeto Cine Xerente: Olhares Indígenas na Grande Tela é uma realização da Abix com patrocínio do edital 023/ Audiovisual Tocantins, da Lei Paulo Gustavo, via Secretaria Estadual de Cultura do Tocantins. O “CineXerente” também conta com o apoio técnico das equipes do Instituto Puro Cerrado e Companhia A Barraca.
Sobre a ABIX
A Abix é uma associação de Brigadistas indígenas da Terra Indígena Xerente e Funil, composta atualmente por 74 brigadistas, homens e mulheres do povo Xerente. A entidade foi criada em 2014 e atua desde então em parceria com o Ibama, a Funai e outras entidades estaduais e municipais. Desde sua criação, a ABIX tem empreendido esforços para o combate ostensivo das queimadas que são muito frequentes na região e também em projetos de empoderamento aos povos indígenas em áreas como agricultura, agroecologia e cultura.